Silmara Balhes: “Faltam mulheres no palco”
- Vez & Voz
- há 4 dias
- 4 min de leitura

Com uma formação em Rádio e TV, minha trajetória profissional começou na produção de televisão, numa emissora já extinta, chamada Rede Mulher. Entre 2002 e 2003, uma agência de publicidade negociou um espaço na programação da emissora para exibir o programa Brasil Logística e Transportes, uma coprodução da NTC&Logística (Associação Nacional de Transportes de Cargas e Logística).
Acabei sendo a produtora responsável por esse produto e, por ocupar essa função, minha interlocução com os diretores das entidades e empresários do setor era constante, o que me familiarizou com o universo do transporte.
Mais tarde, recebi um convite da NTC&Logística para participar integralmente de um projeto em parceria com outras entidades. O desafio era estruturar um departamento sólido de comunicação e vídeo. Montamos um estúdio completo, com ilha de edição, iluminação, câmeras e criamos a plataforma TRC TV. Com isso, meu contrato passou a ser dividido entre a associação e o SETCESP.
Foram cerca de cinco anos de trabalho intenso, cobrindo de perto os principais acontecimentos do setor, como a liberação dos VUCs e o renascimento da COMJOVEM, entre outros momentos marcantes.
Quando fiquei grávida e voltei da licença maternidade, meu filho tinha uns quatro meses e ele chorava muito, foram muitas noites insones. Era tudo muito novo para mim, como mãe e profissional. Foi um tempo desafiador! Por muitas vezes achei que não daria conta. Foi o momento em que senti que precisava ficar com o meu bebê e acabei saindo da empresa.

Só que não fiquei parada por muito tempo. Pouco depois, fui convidada para começar a fazer roteiros de forma freelancer para uma empresa. De repente, me vi roteirista escrevendo para gravações de vídeos. Foi muito interessante para mim essa atividade, porque pude observar como sou flexível dentro da minha área.
Voltei ao mercado de trabalho produzindo conteúdo para a área corporativa. Alguns anos se passaram, depois de já ter tido meu segundo filho, a Comjovem Nacional estava perto de completar 10 anos e me convidaram para fazer um vídeo com essa abordagem. Voltei a frequentar o SETCESP e a NTC para organizar essa produção.
Com essa proximidade, na época o Tayguara Helou havia sido recém-eleito presidente do SETCESP, partiu dele um convite para eu voltar a trabalhar efetivamente na entidade, assumindo a área de eventos.
Não era a minha área de especialização, mas ali compreendi que, às vezes, as pessoas enxergam algo na gente, que nós mesmas não conseguimos perceber. Aceitei esse desafio e me encontrei nessa parte de produção de eventos.
A entrega de um evento é sempre uma delícia. É gostoso proporcionar ao público uma experiência única. Quando vejo tudo acontecer, vem uma satisfação real. Isso me dá um brilho nos olhos e a sensação de que todo esforço valeu a pena!

Nos eventos não existe uma rotina. Isso é um desafio para conciliar com o lado pessoal. Só que existe um ponto positivo, é que os meus finais de semana são livres, assim o segredo é sempre ter tempo de qualidade com minha família nestes momentos de lazer.
Teve uma fase, após a pandemia, em que meu marido estava enfrentando desafios em uma nova experiência profissional. Meu filho, que na época tinha seis anos, com a pureza das crianças, falou assim: – 'Mamãe, arruma um emprego para o papai no SETCESP, você é tão feliz lá e ele também tem que ser feliz, não é?' Acho que isso mostra a percepção do que a gente leva para casa.
Amo o que faço, e uma das programações mais importantes do SETCESP é o Prêmio de Sustentabilidade. A partir do momento em que comecei a me envolver com esta temática, automaticamente isso despertou em mim um propósito para as questões de responsabilidade socioambientais. Voltei a estudar, estou cursando um MBA em ESG e Governança Corporativa.
Uma coisa importante de dizer é que quanto mais a gente dá espaço para determinados assuntos, maior é a transformação que a gente vai gerar, seja em nós ou no outro!
Entrando no tema equidade de gênero, que é o propósito do Vez & Voz, posso contar que lá em 2003, quando comecei no setor, quase não existia mulher. Me recordo que houve uma única vez que conseguimos gravar com uma mulher para falar de logística reversa, ela era representante da Associação Brasileira de Embalagens.
Guardei na memória aquela pauta porque era raro entrevistarmos uma mulher. A gente tinha um setor que era muito tradicional e masculino. Ver hoje os cerca de 25% de mulheres trabalhando no transporte, mesmo que ainda falte muito para o equilíbrio, já é um ganho enorme.
Acredito que a resistência em abrir mais espaço para as mulheres pode estar relacionada à falta de representatividade feminina em cargos de decisão ao longo da história no setor. Para avançarmos na equidade de gênero, é fundamental que haja uma evolução na cultura organizacional e na mentalidade das lideranças.

Em eventos, a gente vê que ainda faltam mulheres no palco. Se você precisa chamar algum executivo de alta liderança para falar em um painel, a probabilidade de convidar homens é grande, porque é raro termos a presença feminina nestes cargos. E podem ter certeza de uma coisa: no que depender de mim, o talento e a capacidade profissional das mulheres sempre encontrarão espaço.
Embora a gente tenha muitas histórias de depreciação da capacidade da mulher, a sororidade conta muito para a projeção feminina.
Já presenciei colegas minhas que foram desrespeitadas no seu tempo de fala ou ignoradas durante reuniões. Só que, quando há uma oportunidade, eu tento, de uma forma delicada, voltar a dar a palavra para essa mulher. Digo: fulana, você quer terminar o que você estava dizendo?
Penso que, se tem outra mulher para apoiar, a situação é minimizada. E a gente vai educando aqueles que estão acostumados a não nos dar atenção e a passar por cima da nossa fala.
Nós mulheres não devemos sentir medo dos desafios. E se cheguei onde cheguei hoje, foi porque aceitei desafios dos quais não tinha muita certeza. A gente pensa: será que isso é para mim? Será que vou dar conta? Deixa eu te dizer: – a gente dá conta.
Essa abertura para o novo e para a transformação foi fundamental na minha trajetória e me permitiu valorizar quando um líder enxerga em nós um potencial, que talvez ainda não tenhamos reconhecido. E isto nos impulsiona a ir mais longe.
Silmara Balhes é gestora de eventos responsável pela pauta de ESG no SETCESP.
Kommentarer