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Raquel Serini: “Não adianta sermos muitas sem as mesmas condições”

Indo a fundo na minha história, preciso contar que tenho pais e familiares que trabalharam no transporte: mãe, pai, tios e primos. Meu pai supervisionava o cross docking e manuseio da carga. Já minha mãe trabalhou no financeiro de uma transportadora.

O destino se encarregou de me colocar no lugar certo. Pouco antes de iniciar a faculdade, consegui um trabalho numa transportadora, assim como minha mãe, na área financeira, e comecei a sentir-me mais de perto desse mundo.

Minha mãe sempre foi meu exemplo. Quando nasci, ela interrompeu os estudos e só depois fez supletivo e faculdade. Ela é uma mulher que supera obstáculos e corre atrás do que acredita.


Raquel Serini, economista do IPTC
Raquel com a família / Acervo pessoal

Quando chegou para mim aquela fase de a gente escolher qual carreira seguir, só sabia que queria mesmo trabalhar com números. Cursei Economia. Na faculdade, tive a felicidade de ver um anúncio de uma vaga de estágio no setor de economia no SETCESP.

Foi o momento em que conciliei a minha experiência no transporte com a minha vocação, porque me encantei com a área de macroeconomia e estava me envolvendo cada vez mais com o tema. E o fato de trabalhar numa entidade possibilitou com que eu fizesse coisas em prol de um setor inteiro, enxerguei um mundo de possibilidades. 

Meu trabalho não é monótono, cada hora estou fazendo uma coisa, tratando de um assunto variado do transporte com uma pessoa diferente.


Raquel Serini
Gravação para o SETCESP

Hoje, o mercado exige muito das transportadoras. É a excelência na entrega, rastreio em tempo real, atendimento integral ao cliente. São exigências que custam.

O desafio para a empresa é se manter competitiva, entregar preço e qualidade. Tento auxiliá-las no dia a dia a enxergar os custos, pôr as contas na ponta do lápis e estabelecer o preço que deve ser praticado.

Hoje, olhando para trás, vejo muitas conquistas minhas. Tenho aquela sensação de que estou no lugar em que eu deveria estar. É até interessante porque quando a gente é mais nova, temos aquele imediatismo. A pressa de chegar lá sem nem saber ao certo para onde está indo.

Nesta jornada, já são dez anos de SETCESP mais sete anos de IPTC (Instituto Paulista do Transporte de Carga [instituição nasceu dentro do SETCESP, em 2017]).

Quero levar o nome do IPTC para o mais alto que eu puder. Acompanhei toda a trajetória do Instituto, vejo que a gente já está agora em outro patamar, mas podemos ir muito mais longe.


Acho que sempre precisamos acreditar em nosso potencial. Independente da função que você exerce, esteja disposta a aproveitar toda oportunidade que tiver para ser ouvida, para dar um posicionamento, mesmo que muitas vezes nós não sejamos perguntadas a respeito.

Uma vez, em uma reunião online com um grande CD [Centro de Distribuição], o representante entrou junto com uma mulher que exercia a mesma função que ele na empresa. Ele sentou à frente da câmera e ela numa cadeirinha atrás. Quando pedimos a opinião dela, ele, a todo momento, interrompia sua fala, como se para validar aquilo que ela estava dizendo.


Raquel Serini
Reunião de trabalho

Assim também, já tive dificuldade em dar uma opinião por ser mulher, e isso acontece, principalmente quando há uma predominância de homens numa reunião. Tentava explicar o assunto e era interrompida para que eles pudessem discutir entre si.

Infelizmente, ainda somos a minoria no transporte, mas penso que já estamos melhor do que estávamos há 50 anos, e estaremos pior do que seremos nos próximos 50. Precisamos nos fazer ouvir até se equalizar de alguma forma a participação da mulher no setor.

Que tenhamos oportunidades e salários iguais. Prezo muito pela qualidade da nossa participação, não adianta sermos muitas e sem as mesmas condições que os homens.


Raquel Serni
Palestrando em evento do SETCESP

Falando do Índice de Equidade, preciso compartilhar que me surpreendi com o aumento da quantidade de empresas que tratam o tema assédio. Fiquei feliz em saber que a gente pauta o assunto, e de fato, tem se falado mais a respeito.

Quanto mais a gente espalhar essa questão, mais ações de combate ao assédio nós teremos. E o Vez & Voz está construindo um cenário melhor para o futuro.

É uma pauta que estamos forçando e temos outras que estão sendo discutidas, como a falta de equiparação salarial. Para mim, esse é um aspecto cultural que necessitamos desmistificar nas empresas.  Antes, só quem reclamava disso, e em off, eram as mulheres para as próprias mulheres. Falta dizer disso abertamente, e tornar o assunto mais massivo.

Raquel Serini
Divulgação Assessoria

A gente está evoluindo mesmo que tenhamos altos e baixos. Acredite em você mesmo. Apesar de aparecerem tempestades, você é forte, consegue e chegará lá. Quem tem um sonho não pode desistir.

 



Por Raquel Serini, economista e coordenadora de projetos do IPTC.

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