Por Claudio Garcia
Julia Boorstin, jornalista de negócios há mais de 20 anos, fala sobre os bastidores da pesquisa para o seu recém-lançado livro "When Women Lead", revelando o que aprendeu com líderes mulheres
Em seus mais de 22 anos de carreira como jornalista de negócios da "Fortune" e, mais recentemente da "CNBC", Julia Boorstin entrevistou alguns milhares de executivos – a maioria deles, obviamente, homens. Há pouco mais de cinco anos, contudo, ela começou a notar a pequena – mas relevante – ascensão de mulheres a cargos de liderança ou como fundador
Em suas conversas com mulheres, ela observou que as líderes atuavam de forma bem distinta de suas contrapartes masculinas, o que a levou a querer compreender o que estava por trás dessas diferenças. Uma extensa e profunda pesquisa baseada em ciência, dados e histórias reais baseou a escrita do seu recém-lançado livro "When Women Lead: What They Achieve, Why They Succeed, and How Can We Learn From Them" ("Quando Mulheres Lideram: O Que Elas Alcançam, Porque Têm Sucesso, e O Que Podemos Aprender com Elas" – não disponível no Brasil).
Em conversa exclusiva, Julia Boorstin propõe reflexões sobre como todos, homens e mulheres, podemos aprender com o exemplo de mulheres excepcionais para construir uma liderança mais adequada aos novos tempos, sem a pretensão de eleger qual gênero lidera melhor:
O que o mundo perde sem mulheres na liderança: “O mundo perde lideranças excepcionais e estratégias que nunca foram tão importantes para o momento atual. Com os recentes eventos acontecendo no mundo, entramos em um novo ciclo de incertezas, volatilidade e imprevisibilidade, e as habilidades e estratégias que líderes mulheres utilizam, todos todos precisam delas agora mais do que nunca. Agora é o momento de aprender com as mulheres que desafiaram as possibilidades e foram bem-sucedidas. Estamos em uma nova fase para a liderança, diferente dos modelos masculinos que definiram o que é uma boa liderança por muito tempo.
Profissionais trabalham em formatos remotos, híbridos, consumidores estão mais imprevisíveis, há transformações digitais em todos os negócios. Precisamos aprender com mulheres líderes – elas têm lições e estratégias que podem ser úteis para todos.”
Como mulheres estão ajudando a mudar o arquétipo de liderança: “Obviamente, por muito tempo, o arquétipo de liderança foi masculino. Mas hoje já existem muitas pesquisas e dados sobre as vantagens da liderança feminina.
Líderes mulheres são mais propensas a serem empáticas. Empatia é incrivelmente efetiva para se relacionar com outros profissionais, com clientes, sócios, etc. Empatia não tem a ver com ser bom. Empatia é se colocar no lugar do outro, ser capaz de ver as coisas sob sua perspectiva. Mulheres tendem a se sentir mais confortáveis com vulnerabilidade em negócios.
Vulnerabilidade, ainda compreendida como fraqueza, é, na verdade, um sinal de força. Permite reconhecer o que não sabemos, aceitar dificuldades ou admitir que estamos lidando com situações que nunca enfrentamos antes.
Vulnerabilidade está próxima da humildade, que permite convidarmos outras pessoas para colaborarmos sobre coisas que não dominamos. Mulheres também são mais propensas a praticar gratidão.
Pessoas que praticam gratidão tendem a ter mais paciência e abdicar de ganhos de curto-prazo que impactem o longo prazo. Gratidão é diferente de felicidade. Felicidade não tem correlação alguma com o longo prazo. Se você compreender essa diferença, você fará escolhas que beneficiarão ganhos melhores de longo prazo.
Mulheres são também mais propensas a liderar de forma mais comunal, trazendo perspectivas de toda a organização em vez de decisões top-down. Elas também tendem a 'olhar mais para a floresta', isto é, para o todo, em vez de focar em uma árvore individual, compreendendo que resolver problemas olhando o todo muitas vezes é essencial, mas é mais difícil e exige mais tempo, mas permite ser mais adaptável quando as situações mudam. Além disso, mulheres são mais propensas a ter organizações direcionadas por propósito, um propósito que estão buscando junto com lucro.”
Quebrando o Pattern-Matching: “Uma importante coisa que impede termos mulheres mais rapidamente em posições de liderança é o nosso instinto bem humano de buscar padrões. Pessoas tendem a aceitar mais ideias e pessoas que combinam com os seus padrões. Investidores são mais suscetíveis a investir em pessoas que os lembram de investidores bem sucedido. Se não promovermos e investirmos nas pessoas pelos méritos e não quebrarmos esse ciclo, vamos continuar a ter o mesmo perfil de pessoas em posições de liderança. Por isso é extremamente importante usarmos dados para superarmos esses vieses.
O que homens e mulheres deveriam fazer para mudar essa realidade: “Homens: olhem para os novos padrões que essas mulheres demonstram. Aprendam como mulheres tornam seus traços em seus superpoderes.
Todas as características que falei são possíveis de serem aprendidas e os homens poderiam se beneficiar delas. Mulheres: qualquer coisa que está na essência do que você é pode ser usado ao seu favor – não mude isso. Apesar de muitos caracterizarem esses traços como neutros ou negativos, aprenda como mudar essa realidade a seu favor. O mundo dos negócios não é igualitário – e não faz mal. Mas você precisa saber o que vai enfrentar e se adaptar para isso. Ao fazer esse livro, aprendi que os modelos de sucesso são tão variados que isso me ajudou a ser mais confiante em mim mesma e aprender a como utilizar minhas próprias características para crescer.”
Cláudio Garcia vive em Nova York onde atua como empreendedor, conselheiro de empresas e pesquisador sobre pessoas e organizações.
Fonte: Valor Econômico
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