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Nicole Goulart: 'Nós não teremos vez se não tivermos voz'

O Vez & Voz entrevistou a diretora executiva nacional do SEST SENAT. Nicole Goulart contou sobre sua trajetória no Sistema CNT, os desafios que passou em sua carreira e como acredita que o Vez e Voz pode transformar o setor de transporte com a inclusão e empoderamento de mais profissionais mulheres. No dia 15 de junho, a instituição se tornou parceira do Movimento. Leia a seguir!



Como foi a sua trajetória profissional até chegar na diretoria executiva do SEST SENAT?

Trabalho no Sistema CNT (Confederação Nacional do Transporte) desde 2009. Sou advogada por formação e ingressei na Confederação para trabalhar como assessora sindical com a tarefa de fomentar o processo associativo e auxiliar nas negociações coletivas de trabalho. Em 2014, virei chefe do departamento jurídico, e depois, recebi o convite para assumir a diretoria nacional, na época eu tinha 28 anos.

É muito desafiador trabalhar, primeiro com pessoas, segundo com política e terceiro em um ambiente muito masculino.

Na primeira reunião como diretora executiva do SEST SENAT, eram quase 30 homens e só eu de mulher. O momento da minha chegada aqui foi o mais difícil porque executei algumas mudanças. Também não sabia ao certo como gerir pessoas, mas busquei qualificação profissional e fui aprendendo.

Hoje olhando para trás, vejo que construí uma carreira muito sólida. É difícil dizer isso sem parecer egocêntrica, mesmo porque, a minha carreira foi fruto de um processo de outras mulheres que trabalharam para conquistar espaços. Sobretudo, posso dizer que sou muito feliz por trabalhar aqui na CNT.


Que importância tem para o SEST SENAT ter como parceiro institucional o movimento Vez & Voz?

Vai completamente ao encontro do que a gente acredita. Nosso setor precisa de profissionais qualificados e competentes, e isso não tem a ver com gênero. O setor precisa ter essa atratividade, especialmente, lançando luz sobre a importância da mulher. É notório que temos grandes mulheres no transporte rodoviário de cargas, como a própria Ana Jarrouge [presidente executiva do SETCESP] e a Joyce Bessa [head de Gestão Estratégica, Finanças & Pessoas na TransJordano], que tem um protagonismo. Então o movimento Vez e Voz permite a gente reforçar quem são as mulheres influentes em nosso setor e o que elas fizeram para estar aqui, para que isso possa inspirar outras que virão. Por meio dele, a gente valoriza a trajetória delas e sai dessa posição de passividade.




O que o SEST SENAT tem feito para fomentar a diversidade e inclusão nas empresas?

Para nós, isso sempre foi algo muito natural. Só que a gente percebeu há algum tempo, que essa naturalidade precisa ser demonstrada e reforçada. A gente sabe que o setor de transporte ainda é predominantemente masculino, então quando a gente trata de diversidade, a gente não só fala LGBTQIAP+, mas também de mulheres, e como se tornar um setor atrativo para elas.

Do último ano para cá, a gente reforçou esse compromisso de demonstrar como essas práticas podem ser incluídas nas empresas e compartilhadas. O nosso grande objetivo hoje é que esse assunto urgente e necessário, seja priorizado. Grandes revoluções não se fazem da noite para o dia, e sim um dia após o outro. É de tanto falar que a gente consegue mudar a mentalidade do transportador e trazer o assunto para a mesa.


Apesar das mulheres terem mais anos de estudo, os homens são maioria em grande parte dos setores. Em uma pesquisa divulgada pelo Instituto Paulista do Transporte de Carga (IPTC), 66% dos colaboradores do transporte rodoviário são do sexo masculino. Acredita que falta muito para o Brasil alcançar a equidade de gênero no campo profissional?

O setor de transporte ainda tem poucas mulheres, apenas 17%. Eu acredito que, para acabar com essa desigualdade precisamos colocar na cabeça do empresário que uma mulher não vai trabalhar como um homem, e não é isso que ele tem que querer. Uma mulher vai trabalhar como uma mulher, tendo direito a licença maternidade, por exemplo, e precisará ter maior flexibilidade; se motorista, em alguns casos, terá que fazer rotas menores. Só que para a empresa essa mulher é importante, porque ela é capaz, comprometida e dedicada.

Uma vez, uma amiga minha perguntou: você acha que a mulher deve ganhar a mesma coisa do homem? E eu respondi, que se ela estudou mais, ela deve ganhar mais.

Não é o seu gênero, é o que você faz, como faz, quais qualificações tem para isso e o resultado que você entrega que deve ser considerado para exercer uma atividade.

Eu não gostaria de fazer parte de uma empresa que pratica a diferença salarial por gênero.


Poderia deixar uma mensagem para nossas leitoras e participantes do movimento do Vez & Voz?

Existe uma falácia de funções classificadas como de mulheres ou de homens. Eu acredito que a mulher deve estar em qualquer lugar que ela deseja. Seria utopia, se eu não reconhecesse que algumas funções são mais difíceis para a mulher desempenhar, por exemplo, se for trabalhar em uma pedreira, porque as condições são muito duras, até para homens. Mas se ela quiser fazer isso, ninguém e nada deve impedi-la de alcançar. Os paradigmas mais difíceis de romper não são aqueles impostos pela sociedade, mas por quem a gente ama, que são levantados pela nossa mãe, a nossa tia, nosso o cônjuge, pai, irmão e por aí vai.

A equidade de gênero precisa estar em pauta o tempo inteiro. Nós não teremos vez, se não tivermos voz.

É conversando e debatendo que a gente acaba desconstruindo e reconstruindo pensamentos. É preciso trazer esse assunto à luz, senão, fica todo mundo na ignorância.

Não estamos desvalorizando em nada os homens, apenas valorizando nós mulheres. E o SEST SENAT está aqui dando suporte a todas elas. Então, se tem algum curso que vocês mulheres queiram fazer, ou algum atendimento na área da psicologia, nutrição, fisioterapia e odontologia, é só sinalizar, que este é o papel do SEST SENAT. Contem conosco.


Veja aqui as ações que o SEST SENAT tem desenvolvido com foco na capacitação profissional de mulheres.





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