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Mulheres habilitadas para dirigir veículos grandes ainda é menos que 5%

Dados do Senatran mostram que as condutoras são minoria, porém o número está crescendo


Foto: divulgação

Em 2022, apenas 3,4% dos condutores habilitados para dirigir caminhões, ônibus e carretas são mulheres, segundo a Secretaria Nacional do Trânsito (Senatran). Em São Paulo, dados do CAGED mostra que, dos 70.641 dos motoristas admitidos, em 2021, apenas 1,51% eram do sexo feminino.


No mesmo período, de maneira geral, no setor de Transporte Rodoviário de Cargas (TRC) ocorreu um aumento de 61% de mulheres contratadas, porém a maioria ainda se concentra em áreas administrativas, de acordo com o Instituto Paulista do Transporte de Cargas (IPTC), órgão de pesquisa parceiro do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (SETCESP).


O gradual aumento no número de motoristas femininas é um reflexo das práticas de ESG, como conta Ana Jarrouge, presidente Executiva do SETCESP. “A grande maioria das empresas possuem vagas de motoristas em aberto e, aliadas às pautas ESG (do inglês governança ambiental, social e corporativa, é um conjunto de práticas voltadas para o desenvolvimento sustentável), tais oportunidades se tornam cruciais para a sustentabilidade dos negócios toda equipe de RH está atenta para a diversidade nos processos seletivos.”


Movimentos como Vez&Voz, o qual Jarrouge é idealizadora, é uma outra ferramenta de inserção de mulheres dentro do transporte rodoviário de cargas. Cursos de capacitação, administração e ações de inserção no mercado de trabalho são realizados pelo movimento para incentivar motoristas.


Solange Voss Emmendorfer, de 58 anos, é motorista de bitrem – um caminhão que é combinação de dois semirreboques acoplados entre si –, e defende que o conhecimento técnico da área é extremamente importante. “Fazer cursos de referência na área em que vá ingressar e procurar conhecer, pelo menos, um pouco da rotina do dia a dia da empresa em que ela pretenda entrar, pois o setor de transportes é muito amplo e cada empresa atua num segmento específico”, conta.


Informações divulgadas pelo PNAD Continua, publicado no dia 19 de janeiro, revelam que, no trimestre que encerrou o ano de 2022, houve um aumento de 10,7% no número de colaboradores no setor de transporte, armazenagem e correio, mais 513 mil pessoas. No geral, o desemprego caiu 8,1% no final do ano, menor número desde 2015.


Dados do SETCESP revelam que, em 2021, ocorreram 32.094 admissões de motoristas mulheres em empresas de TRC. “As lideranças empresariais estão mudando de pensamento, até porque se não abrirem os olhos para todos os talentos, independentemente de gênero, raça, etnia, credo etc., estarão fadadas ao insucesso. A diversidade é real, necessária e a empresa que não estiver atenta a isso não perdurará no mercado”, conta Jarrouge.


Emmendorfer já atua há mais de 21 anos, começando em coletas e entregas em São Paulo, e hoje faz transferência rodoviária em um bitrem de 30 metros. Ela também acredita que o cenário está mudando. “Vejo um futuro bem promissor para as mulheres no transporte, mesmo porque as empresas estão visualizando o potencial feminino. As mulheres têm a capacidade no dito popular de assobiar e chutar cana, sem deixar a peteca cair.”


O estudo How Diversity Can Drive Innovation (“Como a diversidade pode impulsionar inovação”, em tradução livre), publicado pela Harvard Business Review (HBR), mostra que organizações com um grau de diversidade maior são 3,5 vezes mais inovadoras. Outro estudo, que acompanhou 163 empresas por 13 anos, revela que companhias com mais mulheres em cargos de lideranças arriscam menos e inovam mais.


A inclusão de mulheres no mercado pode trazer mais arrecadação para um país, segundo o Banco Mundial. É estimado que um país perca US$ 160 trilhões (R$ 855 trilhões) em impostos por não ter homens e mulheres trabalhando em status de igualdade.


Dentro do transporte de cargas, as mulheres vêm conquistando os seus espaços. “Elas provaram ao longo dos anos que têm total capacidade de conduzir qualquer tipo de veículo, que são mais cuidadosas e, inclusive, se envolvem em menos acidentes de trânsito. Desta forma, qualquer piadinha no sentido contrário perdeu a graça e com muita força de vontade e persistência elas têm mostrado que são ótimas no volante e estão sempre dispostas a aprender e se qualificar cada vez mais”, afirma Ana Jarrouge.


O projeto de Lei 2.493/22, que foi aprovado e que atualmente está aguardando a designação de relator na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, propõe uma reserva de 5% às mulheres em vagas de trabalho como motorista profissional. É uma das ações tomadas pelo poder público para incentivar empresas a incluir mulheres em seus quadros de funcionários.


“Falar sobre mulheres não é modismo como muitos pensam. Simplesmente é uma questão social de extrema importância, da qual teremos que falar que a sociedade, como um todo, perceba que as condições, as oportunidades e o espaço sejam igualitários, o que não é. O esforço e a lembrança são necessários para que tudo isso ocorra. Não queremos ter mais do que os homens, queremos ter as mesmas oportunidades. Queremos ter vez e voz, sempre”, finaliza a presidente executiva.


Fonte: Revista Caminhoneiro

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