Levantamento feito pelo Dieese mostra que mulheres em postos de gerência ganham R$ 40 mil/ano a menos que os homens

Apesar de avanços na legislação, a equidade salarial entre homens e mulheres ainda é um desafio para elas, que são a maioria da população brasileira. Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) relativos a 2024 apontam que mulheres em cargos de gerência chegam a ganhar até R$ 40 mil a menos, por ano, do que os homens na mesma função. O levantamento mostra que as mulheres continuam com as maiores taxas de desemprego, os menores salários — além de também acumularem tarefas domésticas, o que inclui atividades relacionadas aos cuidados de outras pessoas.
Segundo os dados, no ano passado o rendimento médio das mulheres ficou 22% abaixo ao dos homens — uma diferença média de R$ 762 por mês. Enquanto elas receberam, em média, R$ 2.697, os homens ganharam R$ 3.459. Entre a população com ensino superior, a diferença é ainda maior: mulheres com o mesmo nível de conhecimento recebem até 27% a menos do que os homens — média de R$ 2.899 a menos por mês. Para Angélica Petian, especialista em equidade de gênero no mercado de trabalho e sócia do escritório Vernalha e Pereira, a menor remuneração das mulheres se deve a ainda existir uma visão de que elas têm menor produtividade. “Essa percepção é um papel, na verdade, que foi imposto. Além de cuidar da jornada profissional, elas, na maioria das vezes, cuidam de questões domésticas — dos filhos, da família. Essas atividades recaem muito mais sobre as mulheres do que sobre os homens, ainda que de forma inconsciente. Ninguém se senta à mesa de trabalho e fala: 'Olha, vamos pagar menos para as mulheres porque elas têm atividades domésticas. Elas não estão 100% focadas na atividade profissional'. Isso está na nossa formação, na nossa cultura”, lamenta.
Segundo o Dieese, cerca de 13 milhões de mulheres não estão aptas a trabalhar devido a afazeres domésticos, filhos ou outros parentes. Esse número representa cerca de 31% das mulheres fora da força de trabalho. Apenas 3% dos homens desempregados afirmaram que os serviços domésticos ou cuidados com outras pessoas não permitiam que trabalhassem.
O tempo de trabalho também é um grande influenciador nas diferenças na remuneração. O Dieese mostra que os homens trabalham cerca de 4,3 horas a mais do que as mulheres. No entanto, o trabalho feminino não remunerado, como os afazeres domésticos, supera em 10 horas o dos homens. As mulheres gastam 21 dias a mais em um ano com tarefas domésticas — o equivalente a 499 horas.
Baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Boletim do Dieese mostra que as mulheres, além da maior dificuldade de conseguir ocupação no mercado de trabalho, também estavam mais concentradas em profissões que exigem menos qualificação formal e que pagam salários mais baixos. Enquanto 27% dos homens empregados recebem até um salário mínimo, o percentual delas sobe para 37%.
Entre a população negra, os índices são ainda piores. Quase um quarto (23,2%) das mulheres negras estavam em uma das categorias de mão-de-obra subutilizadas — divididas entre os desocupados, aqueles que trabalham menos horas do que desejavam e quem gostaria de trabalhar, mas está impossibilitado. Entre as mulheres negras, 46% recebem até um salário mínimo — o percentual dos homens é de 34%. Além disso, o rendimento médio dos homens não negros (R$ 4.536) foi, em média, mais do que o dobro do das mulheres negras (R$ 2.105).
Angélica Petian sugere que medidas devem ser tomadas pelos empregadores. Não só por conta da imposição legal, mas, sobretudo, para criar um ambiente de trabalho acolhedor e que dê segurança às mulheres para atuar.
“É preciso um regime de trabalho mais flexível, em que a mulher consiga lidar com as múltiplas jornadas. Elas precisam trabalhar e ter a segurança de que encontrarão um ambiente acolhedor”, observa.
Fonte: Correio Braziliense
コメント