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Maria Abade: “A gente troca o salto pela bota e vai para o meio do armazém”

Maria Abade, Rodomaxlog
Acervo pessoal

Comecei na primeira transportadora em que trabalhei com 18 anos. Fui contratada para marcar as coletas a serem realizadas, tudo era anotado manualmente, peso, quantidade e volumes.

Depois disso, participei de um processo seletivo para uma vaga na área administrativa da transportadora Real Cargas. Estava estudando Gestão Financeira e passei a atuar fazendo cotações de frete, atendimento ao cliente, comparativos de tabela e atendimento aos vendedores.

Fiquei por um bom tempo até que a empresa passou a atuar somente no ramo de passageiros e foi desligando alguns funcionários e indicando outros para recolocações no mercado. Neste tempo, já conhecia a Bárbara Calderani, diretora da Rodomaxlog que me chamou para trabalhar na empresa.

Isso aconteceu em 2009. Fui para uma vaga no SAC, que era a única em aberto. Era analista, e na entrevista o recrutador até me falou: você dará uns passinhos para trás, porque o cargo é de auxiliar. Não me importei, pensei — vou começar tudo de novo quantas vezes for preciso.

Fiquei dois anos no SAC depois fui promovida para o setor de pendências, e na sequência para o financeiro como analista, havia acabado de me formar. Passados uns quatro anos, já era casada e resolvi ser mãe.

Um ano depois, eu saí da empresa, por opção, porque queria ficar mais tempo com meu filho. Fiquei em casa por dois anos e quis voltar para o mercado.

Maria Abade, Rodomaxlog
Acervo pessoal

Dizem que quem é picado pela mosquinha do transporte, sempre quer ficar no transporte.

Participei de um novo processo seletivo e fui para uma transportadora que só transportava motos, eles tinham praticamente um único cliente, lá fui de analista financeira para supervisora administrativa.

Nisso, eu retomei o contato com a Rodomaxlog, por estar trabalhando no ramo. Só que quando este cliente encerrou o contrato a empresa desestabilizou e fechou a unidade. Novamente, por intermédio da Bárbara, voltei para Rodomaxlog e no SAC.

De novo, dei um passinho para trás para depois ir para a frente. Brinco que isso aconteceu para eu pegar impulso.

Assumi a área do SAC como supervisora. Após um ano recebi uma proposta, de um diretor da casa, o Rubens, para coordenar a operação.

Confesso que a primeira coisa que pensei da operação era o quanto ela é masculina. Mas aí ouvi deste diretor: você tem potencial. Acredito que você vai se dar bem, lá e vou te mostrar o caminho das pedras.

Aceitei o desafio e fui para a operação, que é noturna. A gente começa às 15h30 e vai até 1h. Tem cinco anos que estou nessa parte operacional e é com muito orgulho que digo isso.

No começo, estranhei esse horário. Fui me adaptando com sono e a rotina. Divido a guarda do meu filho com o pai. Ele o leva para a escola e eu vou buscá-lo. Tenho também a facilidade e a felicidade de morar próximo à empresa.

Maria Abade e equipe Rodomaxlog
Acervo pessoal

O transporte é muito dinâmico. Não posso prometer que hoje será igual a ontem, porque a gente depende do trânsito, do tempo, da pessoa que fará o recebimento. Tudo influencia em nossa operação.

Quando chega dezembro é um fluxo enorme de cargas e a gente trabalha vários finais de semana. Só que, por mais que seja cansativo, você fica satisfeito. Tem a sensação de dever cumprido.

Pensar em desistir, a gente até pensa, mas é muito mais prazeroso alcançar o resultado e saber que conseguimos atingir o objetivo. E de certa forma, a gente vive de vencer as batalhas que a vida nos dá.

Ainda existe a mentalidade de que a mulher não vai saber lidar com vários homens. Só que a gente troca o salto pela bota e vai para o meio do armazém mostrar que dá sim.

Tem pontos difíceis, em ser uma mulher a liderar uma equipe totalmente masculina? Claro que sim. É complicado você trazer as pessoas para você. Minha equipe tem 25 homens.

Preciso deles, e tenho que estar do lado deles, porque o sucesso deles é o meu. O que torna tudo ainda mais desafiador, é porque a gente vive tempos em que psicologicamente as pessoas estão vulneráveis. Neste aspecto o ser humano, homem ou mulher, está fragilizado. Então você tem que ter tato para falar.

Digo por experiência própria. Passei por um momento muito difícil quando me separei. E o meu trabalho foi o meu suporte. Aqui eu simplesmente esquecia dos problemas lá de fora. Então, quando penso em desistir, lembro de tudo o que o transporte já me deu.

Maria Abade , Rodomaxlog
Acervo pessoal

Além do meu trabalho, minha outra fortaleza são as mulheres que tenho na minha vida. Venho de família grande, nordestina, de gente humilde, mas muito trabalhadora e cheia de mulheres de muito exemplo.

Minha avó, por parte de mãe, ficou viúva muito cedo, e criou sozinha oito filhas. Me inspiro em minha avó e nas mulheres da minha família, que vão fortalecendo uma as outras.

E quanto mais movimentos de apoio à mulher tivermos, seja no transporte ou fora dele, mais as pessoas vão se abrindo para esta necessidade de colocar as mulheres no patamar de igualdade que os homens.


Por Maria Abade, coordenadora operacional na Rodomaxlog

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