Costumo dizer que estou no setor de transporte desde que eu nasci, porque meu pai era transportador. Mas comecei a trabalhar efetivamente, ao completar 17 anos.
Meu pai construiu a vida dele de uma forma muito simples até chegar a ser transportador, foi adquirindo patrimônio, sempre com aquele desejo de que os filhos no futuro tivessem ‘diploma de doutor’.
Quando fui buscar minha formação acadêmica eu tinha muitas dúvidas do que eu cursaria, porque eu já tinha uma carreira em paralelo, eu era bailarina. Dançava balé desde criança. Mas com aquela incumbência de buscar uma formação acadêmica, optei pelo Direito. Me formei, só que continuei trabalhando com o transporte.
Em um dado momento, meu pai teve um revés nos negócios, e teve que fechar a empresa. Então, fui trabalhar na minha área como advogada. O que serviu para que, pouco tempo depois, eu tivesse a certeza, de que queria mesmo ser transportadora.
Saí então a procura de uma oportunidade no mercado e consegui uma colocação em uma multinacional de comércio exterior. Enquanto eu estive nessa empresa, fiquei bem próxima ao transporte de cargas.
Nesse meio tempo, meu irmão, que hoje é meu sócio, fundou a Terra Master Logística e Transporte e me convidou para trabalhar com ele. A princípio eu resisti, mas com o tempo, eu acabei cedendo, e me associei à Terra Master.
Para tomar conta da gestão da empresa eu fiz uma pós-graduação em administração. Fora que, a experiência na empresa de comércio exterior me deu muita bagagem para eu ser quem sou hoje. Aliás, todas as experiências foram válidas. A faculdade de direito, apesar de eu não ter me apaixonado pela profissão, foi incrível a nível de conhecimento. Eu só tenho a agradecer.
Eu costumo dizer que eu não volto meu olhar para as dificuldades, e sim para as oportunidades. Falo sempre para o meu irmão: se não fosse para ter problema, eu não seria empresária.
O empresário vem para o mercado para contribuir com o crescimento do país, para gerar emprego e a gente tem uma responsabilidade social envolvida em cada passo do negócio. Temos que ter essa ciência, não dá para viver em um conto de fadas e achar que tudo vai fluir sem nenhum percalço.
Toda mulher que mantém uma vida profissional ativa, agrega muita coisa na vida. Tem que ter disciplina para lidar com todas as etapas do dia a dia, para se estabilizar. Eu aceito o fardo, eu carrego e lido bem com isso.
Gosto do papel de ser mulher, eu amo o papel de ser empresária e de ser mãe. Eu gosto de cada uma das partes que exerço, e assim vou andando, me equilibrando sem olhar para trás. A gente se organiza num rol de tentativas de erro e acerto, encaixando as peças do quebra cabeça de forma que vai ficando tudo mais conciliável. Tranquilo, não é.
Às vezes, eu brinco com a minha mãe dizendo que a culpa é dela, você que me criou para ser independente, antes tivesse me criado para me casar com marido rico, rsrsrs! Isso eu falo da boca para fora, porque eu jamais aceitaria este papel.
Aqui no Brasil a posição de mulheres em cargos de liderança é muito recente. Eu enxergo muita resistência neste sentido na minha geração e nas gerações anteriores a minha.
Já tive sim, dificuldades em lidar no meio de transporte por ser mulher, com os demais empresários da mesma faixa etária que eu. Com esses grupos a abertura de voz é mais complicada e exige um esforço maior. Já com os meus colaboradores, isso nunca foi uma dificuldade.
Meus motoristas costumam me chamar de “Dona Fê”, que é um misto de liberdade com respeito. Tenho muito cuidado e cuido muito de todos também.
Acho que há um caminho de evolução a ser percorrido pelas mulheres. Já vejo a geração dos meus filhos com o pensamento bem diferente, quiçá quando eles tiverem à frente das grandes empresas, isso mude.
Este movimento Vez e Voz já dá sinais desta transformação. Essa é uma das Comissões dentro do sindicato que tem mais comprometimento e comparecimento. É a prova de que, quando as mulheres entram em um negócio, elas entram pra valer, pra ficar e pra mostrar ao que vieram.
O caminho de empoderamento das mulheres não pode ser forçado. Esse é um pedido de espaço, no qual se diz, eu estou aqui e quero ser respeitada.
Não estamos falando em colocar a mulher no poder porque ela é mulher, e nem colocar por colocar. Ao contrário, a gente está conquistando os nossos espaços e só precisamos que abram o caminho para que isso aconteça.
O que eu vejo do Vez e Voz é que ele traz para o mundo profissional do transporte, a força da mulher brasileira, mostrando que através do compartilhamento de histórias e de experiências de vida o quão forte e capazes todas nós somos.
Estamos assumindo um lugar de voz muito importante na sociedade e mostrando de forma leve o quanto as mulheres podem fazer.
Por Fernanda Veneziani é CEO na Terra Master Logística
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