Quis iniciar minha carreira profissional fazendo uma faculdade de pedagogia, na época me imaginava professora, mas depois que terminei o curso, percebi que aquilo não tinha muito a ver comigo.
Passado um tempo, surgiu uma oportunidade de trabalho na Câmara Federal, o que eu agarrei com unhas e dentes. Ingressei e comecei a conhecer o universo político e a entender o processo legislativo. Um pouco depois, fui convidada para trabalhar na NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística), onde estou há 25 anos.
Na política, assim como no transporte, há uma escassez de mulheres. Não conseguimos ocupar nem mesmo os cargos destinados a nós no parlamento. Não atingimos o índice que a Lei eleitoral exige de representatividade feminina na Câmara. Ambos os setores, tanto o transporte quanto o político, são bastante masculinos. No entanto, eu transito pelos dois.
Particularmente, gosto muito daquilo que faço, que é acompanhar o Congresso levando as propostas do transporte. Hoje, o transporte está na ordem do dia do poder legislativo, coisa que não estava há algum tempo atrás.
Eu trato com as entidades que representam as empresas de transporte, escuto os desafios, reúno as demandas e busco amenizar os problemas abrindo um espaço de diálogo com o Congresso.
Foi de uns 10 anos para cá que o nosso segmento ganhou notoriedade, com as nossas lideranças realizando um relacionamento político mais amplo. Não é uma tarefa fácil, porque o transporte no geral é muito segmentado, tem carga fracionada, lotação, produtos perigosos, e etc., então são várias frentes que precisam ser trabalhadas.
O transporte ainda é uma atividade vista como coisa de homem. Eu falo do transporte de cargas no todo. Entretanto, isso tem mudado até pelas ações das entidades, a Ana Jarrouge, assim como, a Joyce Bessa, são verdadeiras referências nesses assuntos, elas levantam essa bandeira de participação feminina no setor, e de fato, conseguiram abrir esse caminho rumo à transformação. Também vejo nos Núcleos da Comjovem que as meninas estão mais ativas nesse propósito de ampliar a igualdade de gênero. De igual modo, no Congresso, a cada legislatura o número de mulheres aos poucos está crescendo.
Acho que isso é questão de mentalidade, que custa a mudar, mas nós precisamos encontrar a forma para que tal transformação aconteça. Acredito que uma das alternativas é incentivando e trazendo mais mulheres para o setor, justamente o que o Vez & Voz vem promovendo, mostrando que elas podem estar em qualquer lugar desse segmento, desde a presidência ou direção da empresa, até nos cargos de motoristas e ajudantes. Para qualquer atividade que a mulher tenha interesse de exercer ela é capaz.
Pessoalmente nunca me senti intimidada, mas já sofri algumas situações do tipo que parecem que querem te diminuir, por exemplo: você está em uma reunião que só tem homem, e aí te perguntam ‘você pode servir um cafezinho para gente?’ (como se pelo fato de ser mulher, você está mais apta a fazer esse tipo de tarefa do que algum homem).
Por essas e outras, que eu volto a destacar: mulheres, nós somos capazes, sim. Acreditem na sua força, não desanimem porque tudo é possível de se conseguir. A gente precisa mostrar nosso valor profissional. Não podemos desistir!
As corporações têm de ver a gente com os mesmos olhos que enxergam os homens, pois temos a mesma capacidade, a única diferença entre nós é o gênero. Vejo mulheres às vezes mais inteligentes e dedicadas do que alguns homens. Nós nos esforçamos igualmente e entregamos resultados. Inclusive, temos que receber os mesmos salários quando exercemos a mesma atividade. A gente não é contra os homens, a gente só quer os nossos espaços.
Por Edmara Claudino – diretora executiva da NTC&Logística
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