Estas histórias desmistificam a ideia de que mães devem ser perfeitas o tempo todo e são livres de falhas
Haja criatividade e talento para escrever as mais mirabolantes, inovadoras e extraordinárias histórias de ficção, né? Mas quando o assunto é maternidade, não é uma questão de imaginação, é de vivência.
Perto do Dia das Mães, listamos 5 leituras, histórias e recortes que retratam a maternidade como ela é: feita de momentos difíceis, emocionantes, exaustivos, felizes e, definitivamente, marcantes
'A filha perdida'
Autora de alguns dos maiores best-sellers dos últimos anos, Elena Ferrante aborda as relações familiares de diferentes maneiras e derruba qualquer tentativa de idealização a respeito dos seres humanos. Em "A Filha Perdida", a personagem Leda também não escapa de ter suas “falhas” expostas: durante as férias no litoral da Itália, ela se pega observando cada detalhe na relação feliz da jovem Nina com sua filha pequena e reabre uma ferida sobre a própria maternidade.
Entrelaçando as duas histórias, Ferrante quebra a romantização em torno da inexistente mãe perfeita, da ideia de que a maternidade é o sonho de toda mulher e de que todas deveriam abdicar de qualquer outro plano ou carreira para se dedicarem completamente à criação dos filhos. Ao mesmo tempo, é como se, em centenas de páginas, a autora também declarasse: essas mulheres não são ruins por não serem, constantemente, mães incríveis!
Vale lembrar que o livro já ganhou adaptação para o cinema, com as protagonistas Leda e Nina interpretadas por Olivia Colman e Dakota Johnson, respectivamente.
'Um defeito de cor'
O livro de Ana Maria Gonçalves começa na África e termina no Brasil, assim como o filho de Kehinde, vendido como escravo pelo próprio marido no século XIX. Kehinde é uma das milhões de mãe negras que foram impedidas de criarem laços com os próprios filhos para cuidar e amamentar os bebês dos senhores.
Mesmo muito idosa, a protagonista não desiste de procurar pelo filho vendido. E é nessa trajetória que o leitor conhece sua história marcada pela violência da colonização e seus defeitos, afinal ela também comete erros ao tentar proteger as pessoas que ama.
'Véspera'
Carla Madeira é um dos nomes do momento na literatura brasileira. Enquanto no seu primeiro romance "Tudo é Rio", em "Véspera" tudo é oceano e transborda de um barco que dá sinais de que irá afundar a todo momento ao longo de quase 300 páginas. O “naufrágio” começa quando Antunes registra os filhos gêmeos como Caim e Abel, para total desespero de Custódia. A mulher, que já não nutria nenhum sentimento pelo marido, passou a repudiá-lo e a se dedicar inteiramente a criar os filhos para se amarem e se manterem unidos. Mas a história da Bíblia recaiu sobre os meninos, que cresceram e tiveram suas próprias famílias – ou algum traço remoto do que essa palavra significa para um deles.
Traço, esse, que reflete em Vedina, uma mulher cansada, que nunca foi amada pelo marido de nome bíblico e que já não sabe mais como acalmar os ânimos do filho, a quem se sente "obrigada a amar há 5 anos". “Como se chega ao extremo?”, começa questionando a escritora, que mostra como as próprias experiências impactam na criação dos filhos.
'As alegrias da maternidade'
Nosso ponto final é em Lagos, na Nigéria. Não é lá que Nnu Ego cresce, mas é para onde vai em busca do sonho de ser mãe e se tornar uma “mulher completa”. Buchi Emecheta descola alguns acontecimentos de sua vida para contar a história de Nnu e suas frustrações amorosas, a maternidade que não foi como ela esperava, os parentes que muito apontam os dedos críticos e pouco ajudam, a dor do abandono e a decepção com os oito filhos que criou, praticamente, sozinha.
'Fique Comigo'
Ainda na Nigéria, dessa vez construída pela autora Ayòbámi Adébáyò, conhecemos Yejide e Akin. Felizes durante os primeiros anos de casamento, a falta de um filho do casal começa a ser o assunto na roda de parentes próximos, até que a mãe do rapaz o incentiva a ter uma segunda esposa para dar continuidade ao sangue da família.
Foi o começo do fim para Yejide, que ficou conhecida na região por dar à luz abikus que, segundo a religião iorubá, são crianças que vivem por poucos anos. Mas ela fará de tudo para salvar o casamento, ou seja, para engravidar... Mesmo que, para isso, tenha que abrir mão exatamente do que tanto sonhava!
Apesar de se passar em 1980, a obra debate um assunto bastante atual: o papel da mulher na sociedade, as construções familiares e a culpabilização da mulher na maternidade.
Fonte: G1
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