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Camila Freire: “A caminhada é longa, mas a satisfação e os resultados são garantidos”

Camila Freire
Acervo pessoal

Trabalho no setor de transporte há pouco mais de dez anos. Nunca me imaginei sendo motorista profissional, mesmo gostando de dirigir e fazendo isso desde muito nova.

Hoje, minhas atividades envolvem fazer entregas e coletas. Gosto dessa correria de carregar e descarregar as mercadorias. A satisfação é chegar no final do dia com todas as minhas entregas feitas e as notas assinadas. Sem nenhum tipo de ocorrência, sem nenhum acidente.

Do meu ponto de vista, o que dificulta o transporte é o trânsito, que não tem jeito, é sempre uma caixinha de surpresa, e às vezes, a demora dos clientes no recebimento da carga. Quando acaba minha jornada, embora esteja cansada, é um cansaço prazeroso.

Sou realizada profissionalmente, porque gosto do que faço. Amo dirigir. Fiz do meu hobby a minha profissão e o meu ganha-pão.

Óbvio que a gente passa uns perrengues na rua, o que é normal, mas ainda assim, eu gosto muito mesmo de ser motorista. E, claro que conciliar minha vida profissional com a vida pessoal não é fácil.

Sou mãe de dois filhos, tenho um casal de gêmeos com 12 anos. É difícil, mas tento fazer o que está ao meu alcance para estar sempre presente. Chego em casa e dou o máximo de atenção que posso para eles.

Camila freire e família
Acervo pessoal

Fora isso, tem os afazeres domésticos também. A gente tem que se desdobrar. O dia dura 24 horas, mas a gente tem que fazer com que ele renda pelos menos umas 36h.

Acho que o transporte é um dos setores em que há a maior concentração do gênero masculino. Então, é difícil ser a minoria, mas com respeito e sem uma imposição forçada a gente se prova como profissional.

Estamos mostrando que somos capazes sim, não temos as mesmas características do homem como a força física, mas temos foco, delicadeza, determinação e conseguimos executar o trabalho com maestria.

Graças a Deus, a cada dia mais as transportadoras vêm reconhecendo e apostando na contratação de mulheres motoristas. No entanto, fica o alerta para serem justas com relação ao salário, independente do gênero.

Aquelas que praticam a desigualdade salarial, deveriam rever urgentemente esta ideia. Deveriam pensar em estimular cada vez mais o profissional a querer ser melhor, mais capacitado, não importando se é homem ou mulher.
Camila Freire
Acervo pessoal

Meu início foi bem complicado, tinha receio, mas também me sentia desafiada. Gosto dessa coisa do desafio, mas quando entrei, sentia os olhares voltados para mim porque uma mulher destoa do ambiente masculinizado. Então, fui chegando devagarzinho e respeitando os limites e o espaço de cada um.

Hoje, não tenho nenhuma dificuldade em ser ouvida na empresa. Sabe, é uma questão de tempo até eles se acostumarem com você, porque pode parecer que não, mas alguns, infelizmente, têm medo de que a gente tome o lugar deles.



Com o respeito, a gente consegue contornar a situação e conviver em harmonia. A mensagem que deixo para as meninas que têm vontade de seguir esta profissão é de que não se deixem parar. A gente já lutou até aqui e não vale a pena desistir.

Sei que essa vida nossa é uma loucura, ser: profissional, mãe, esposa, dona de casa, ter as responsabilidades fora do trabalho... pesa. A gente tem vontade de chorar e de sair correndo, largar tudo, mas não podemos fazer isso.

A caminhada é longa, mas a satisfação e os resultados são garantidos. Vamos continuar nossa luta e desenhar neste setor uma longa e duradoura trajetória.

Espero que minha história possa contribuir com o movimento do Vez & Voz de alguma forma, porque acredito na participação das mulheres no transporte.


Camila Freire é motorista na Quimilog em Guarulhos

 

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