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Ari Gomes: “Homem e mulher tem que ter o mesmo salário, tratamento e apoio”

Ari Gomes é Diretor de Vendas e Marketing de Caminhões da Mercedes Benz Brasil. Em entrevista ao site Vez & Voz, ele comentou sobre a atuação profissional da mulher, especialmente, no transporte rodoviário de cargas



Quais são as figuras femininas que considera como referência?

A pessoa que obviamente, vou ter como referência é a minha mãe, porque foi dela que tirei a base de tudo o que eu sei hoje, e de tudo o que eu faço. Estou cercado de mulheres, e elas em geral, me dão muitos bons exemplos. Minha esposa e filha me apoiam muito, e na vida profissional também contei com a ajuda de muitas mulheres. Aliás, se você tiver que escolher um exemplo de vida, é muito mais fácil se apoiar em uma figura feminina do que em uma masculina. A mulher faz um monte de coisas, como encarar uma jornada tripla de trabalho (porque trabalha fora e cuida da casa e dos filhos) o que o homem em geral, não consegue fazer, e se faz, com certeza faz reclamando (risos).


Como executivo, o que é possível fazer para diminuir a desigualdade salarial entre gêneros?

Eu acho que isso é uma questão de atitude. Os colaboradores que trabalham comigo, tanto homens quanto mulheres, ganham os mesmos salários. Aqui os salários se equiparam dentro da mesma função ou cargo. Não existe motivo algum, para se considerar que, uma mulher tem de ganhar menos do que um homem. Não há lógica e nem razão. Eu tenho quase 60 anos e não consigo entender porque algumas empresas ainda têm esse tipo de comportamento. A equidade salarial entre homens e mulheres é uma atitude que as empresas deveriam tomar, e se as empresas não tomarem, os executivos que têm poder de decisão nessas organizações, é quem deveriam tomar as providências para acabar com essas diferenças.


Como tornar o ambiente mais inclusivo nas empresas de transporte para mulheres, levando em consideração, por exemplo, o fato de a mulher ter direito a licença maternidade?

Primeira coisa, todo homem e toda mulher, que for julgar a questão da licença maternidade, deve lembrar que ele já nasceu. A gente tem que ter empatia. A mulher é a pessoa que dá à luz, que carrega a criança nove meses, e que depois, pelo menos durante uns 6 meses, deve dar uma atenção maior ao filho, até para que essa criança seja mais saudável no futuro. Então para mim, isso tem que ser encarado como algo normal e até natural. As mulheres não deveriam ter que se sentirem mal por isso, porque eu sei que tem muita mulher que sente uma dor na consciência porque ela vai ter um filho e vai ter que tirar licença, mas esse peso não deve existir. Aqui na Mercedes Benz Brasil (MBB), não há absolutamente nenhuma crise por conta disso. Temos várias funcionárias que queriam ter filhos e eu incentivei, porque isso é uma coisa que a gente leva muito naturalmente. Acho que toda a empresa deveria ter esse princípio de que a mulher pode querer ter filhos, e a gente não tem que colocar diferenças salariais ou diferenças de tratamento por causa disso. Homem e mulher tem que ter o mesmo salário, tratamento e apoio.

Já falando sobre o ambiente, quando a gente pensa nas empresas de transporte, eu acho o ambiente ainda muito masculino. Quando a gente vai para a estrada e para em um posto de combustível, dependendo do local, talvez você não encontre banheiros preparados para receber mulheres. Raramente, você vai encontrar um suporte para a mulher, e muitas vezes, até para homens. As condições nas estradas são desafiadoras, especialmente para as mulheres, que eventualmente estão entrando nesse mercado. Eu acho que a gente deveria ter uma atenção maior para este tipo de coisa.


Por que é importante a diversidade nas empresas?

A diversidade faz com que as empresas sejam mais humanas e com que as pessoas sejam mais tolerantes. Você melhora o ambiente de trabalho e traz resultados, que inclusive, podem impactar o lado financeiro. Quando você tem diversidade em uma equipe você tem pessoas com diferentes vivências e que podem julgar uma decisão considerando diversos pontos de vista, isso ajuda na tomada de decisão. Para mim, engrandece o trabalho e proporciona decisões mais assertivas, e muito provavelmente, mais rentáveis. As diferenças nesses casos são um ganho. Adoro quando eu estou com o meu pessoal e apresento uma ideia e falo que gostaria que fosse assim, aí vem outra pessoa e fala, poderia ser feito diferente. Isso faz com que a gente repense a ideia, e eventualmente, se torna algo mais seguro e assertivo.


Conte-nos um pouco sobre o movimento A Voz Delas?

A MBB criou o A Voz Delas com o objetivo de facilitar a vida da mulher motorista no transporte rodoviário de cargas. Começou em meados de 2019, quando o nosso time de marketing estava fazendo uma viagem pelo centro-oeste do país e pararam num posto de bastante afluência e bem movimentado, mas cujos banheiros não estavam em condições de atender uma mulher. A partir daí, a gente pensou num projeto interno e demos o primeiro passo, reformamos os banheiros daquele posto. Assim, demos o exemplo do que poderia ser feito, para melhorar a infraestrutura, não somente dos postos, como também nas empresas de transporte, pois a mulher está chegando para descarregar, muitas vezes, em uma empresa onde historicamente só desembarcavam homens. Buscamos demonstrar que é preciso dar condições, que sejam aceitáveis para ambos. Por enquanto, estamos trabalhando com coisas estruturais, e não só para as mulheres que são motoristas, mas também para as mulheres que são esposas de caminhoneiros e os acompanham nas estradas.

O que as parcerias entre os movimentos de apoio às mulheres, como o Vez e Voz e o A Voz Delas, pode trazer de avanço na questão da equidade de gênero?

Pelo A Voz Delas nós sabíamos que tínhamos uma demanda muito grande de mulheres, que queriam ser motoristas e uma das barreiras para isso acontecer é o custo alto da CNH profissional, e a gente fez uma ação de nome ‘Na direção dos seus sonhos’ e premiamos 30 mulheres com habilitação profissional. Isso deu uma repercussão bastante grande, e aí contamos com a parceria do SETCESP, por meio do Vez & Voz, que está trabalhando conosco para integrar essas mulheres ao mercado de trabalho. São esses tipos de parcerias que estamos buscando e que vai fortalecendo o projeto. Desejamos que iniciativas similares ao que estamos fazendo estejam na agenda de outras empresas, até que a desigualdade de gênero nos setores um dia esteja resolvida por completo em nosso país. Determinadas coisas deveriam ser normais, ser as regras e não as exceções.

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